quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Discurso

Ensaio meu discurso noite adentro
E em tempo percebo que você não vem
No fundo pensei mesmo que fosse me julgar redundante
E então adormeço adoecido

A janela anuncia o início do dia
Enquanto renuncio ao posto
Deixo-lhe apenas meu silêncio amargo
Agora sim está tudo dito

Então me lembro de que escrever pode ser bom
E só preciso de duas palavras
Quem sabe quando chegar você as encontre:
"não volto"

sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Tempo Rei

À primeira vista, apenas estranhos
Expectativas entregues à sorte
Sem maiores apostas
Sem espera

Talvez esse seja sempre um bom começo
Não para mim, que preciso estar e ser
Mas talvez seja bom vê-lo começar assim,
À revelia de mim

Eu bem prefiro o meio.
Vê-lo sorrir depois desse início
Me alegra fundo a alma
Sei então que te alcancei

Mas então se achega o fim 
E o fim é sempre triste
...
Ainda não me acostumei
À ideia do transitório



terça-feira, 12 de novembro de 2013

Novembro

Ah doce novembro
Parece que veio pra mim e pros outros
Levou todo o medo e todo o desgosto
Tem feito essa gente sorrir de chorar

Parece que veio correndo ligeiro
De braços abertos
Bonito e travesso
Partidas, chegadas, pra melhor ficar

Me encho de graça ao ver os que amo
Felizes também pelos cantos, risonhos
É tanta alegria 
Chega a ressonar

Ah doce novembro
Toda a nossa espera agora concreta
Sorrisos e sonhos transpassam a janela
Só temos motivos pra comemorar

terça-feira, 5 de novembro de 2013

Andorinha


Voei
Enquanto alguns ainda olhavam
Olhares tão desconfiados
Alcei meu voo assim de susto

Uma olhadela para baixo
Pra constatar que era verdade
Vi que era alto e o vento forte
Eu tinha mesmo conseguido

Olhei de lado e o sol sorria
Um riso de quem já sabia
Que o voo aconteceria
Naquela tarde iluminada

Então bati bem forte as asas
Estavam mesmo já curadas
Daquele tempo tão difícil
Em que teimava em duvidar

Voei

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Bem dito

Seria o céu escuro
Algo falso, imaginário?
Talvez não
Talvez tenha sido tudo verdade

Aguaceiro barulhento

Balançou meu telhado
Mas foi chuva de bênçãos
E lavou fundo a alma

Bendito dia em que o encontrei

Suas palavras me acertaram em cheio
Vieram carregadas de amor
Quase abraçando

Posso então ver as nuvens indo

Para longe
Devagar
A luz agora, chega a doer os olhos.

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Voa, Raimundo

Os olhos tão doces e fortes
Há muito não vejo se abrirem
Pintados de um cinza azulado
Ficaram guardados no espaço

A rua do mês primavera
E o cheiro do armário aberto
Me lembram agora você,
Meu velho amigo sincero

Me encho de tantas lembranças
Que os olhos já pingam saudade
Do tempo em que fui Baianinha
Da sua voz já bem baixinha

Sentado ali na varanda
O rádio assim alto, tocando
...
Vazios domingos fizeram
O tempo bonito correr.

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Outubro

Eu peço que encontre aquilo que busca
Escondido num canto aí dentro
E me conte do tempo perdido
Com os olhos brilhantes de novo

E me fale de como é bonito

Ver a vida de um jeito mais simples
Sem o peso da inconsistência
Sem querer ser alguém que não é

E que os ventos do fim deste outubro
Consolidem as novas escolhas
Soprem luz e amor sem limites
Boa nova de tempos vindouros

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Para ele

Tão leve e quase inquebrável
Movimenta suave no baile dos dias
Maleável entre outros tão fortes
Ele é frágil em seu contorcionismo

Sabe rir e também sabe orar
Pra que a vida lhe bata bem menos
No silêncio que lhe acompanha
Traz barulho em seus pensamentos

Diz a si mesmo que fique tranquilo
Tanta dor já lhe fez mais maduro
Embrulhadas na mente saudosa
Traz lembranças de um sono profundo

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Dança das fitas

Então se surpreendeu com os laços que fez
Reconhecendo que nunca esteve sozinho
E que cresceu ao lado de outros que também cresceram
E mudou, ao passo em que se transformavam

E todas as mãos daquele palco fizeram uma trama única,
Cheia de fitas que dançaram a particular dança 
De se encontrar e se tocar e se afastar
E de levar em cada uma a cor das outras

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Desabafo

E ele disse com a voz embargada
Que mais uma vez é muito
E que a vida passa enquanto ela brinca de casa.

E também disse que falta aos olhos ver direito,
Sem as regras impostas por quem mesmo?

E disse calado do quanto era triste
E do quanto ela era vazia.
Mulher lunática, sem limites.

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Eu

Eu me desculpo pelos dias nublados.
Em que passo alheio a tudo o que está para fora da linha que me divide com o mundo.
Eu tenho um limite de convivência certas manhãs.
E em dias assim, ninguém me acha. 
Você me verá de pé, mas não se engane. Não estou presente.

Eu peço que o sol logo apareça.
E que com ele eu expresse o que trago bem dentro, escondido até que você sorria e tudo se mostre.
Do jeito que você merece ver.
Do jeito que você sempre quis.
O meu verdadeiro eu.

quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Sereno

E ele disse calma
Alcançou minha alma em sopro doce
Deu meu medo ao senhor Tempo
E a agitação ao Ritmo

Personificação da alegria
Transformou soluço em solução
E se tornou tão simples, que sorrio
Uma metade inteira

terça-feira, 3 de setembro de 2013

Esquizofrenia


Tempos difíceis ficam na lembrança
Cárcere privado em seu próprio ser
Tempo solitário, dúvida e loucura
Fez dela mais forte, mas fez se esconder

Hoje recomposta já pode sorrir
Mesmo temerosa da própria razão
Disse adeus a tudo sem se despedir
Fim da casa-grande, fim da escravidão

Mas trouxe em si o peso de ser livre
A culpa de ser feliz por apenas ser
Tantos anos presa pela própria mente
Ainda a enganam sem nem perceber

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Entrelinhas

Tudo ficou por entre as linhas
Vontade e dúvida fundidas e indistinguíveis,
Criaram o não vivido como filho de barriga.
Espelho de circo que emagrece e multiplica.

Faz parecer, mas não é.

Ilusão perigosa, inconveniente.

Sorrateira, tenta esconder o real: 
Aquele do dia, aquele da noite,
O de agora, o de sempre.

O que está bem ao seu lado.
Se não está, será escrito.
Por extenso, 

Sobre as linhas.

terça-feira, 13 de agosto de 2013

Presente

Do desencontro o encontro,
Agora conciso e por escrito.
Definidos os limites do amor e do ódio,
Não há mais margem para equívocos.
Definidos passado e futuro,
Não há mais tempo de sofrimento.

A alegria de hoje é só minha.
Ninguém pode ouvir minha euforia.
...
Lá fora é só mais um dia.

terça-feira, 6 de agosto de 2013

Para ela

E no balanço do vento
Te pego pelo braço, te arrasto comigo
Assim no meu compasso, não mais indeciso
Assim como faz tempo já devia ser...

E lá de longe, já míope
Ficaram no passado os tempos perdidos
Ficaram enterrados amores antigos
Queimei o velho mapa para um novo astral

E a minha alma se enche
Deixando a reverência ao meu velho eu
Que fez de mim tão novo, tão bom e tão seu
Me fez enamorado.

quarta-feira, 31 de julho de 2013

Encontro

Ah menina, cabelo de ombro
Me defina você neste mundo
Vai, me diz o seu nome, escancara
Sua dor, seu sentir tão profundo
...
Bem quisera ser certa de mim
Mas vario com a embarcação
Me disseram que a alma navega
Mar de vento ou de pouca emoção

Debulhando-me, encontro os meus eus
Uns tão pobres, um eu tão jagunço
Vive em caça da minha alegria
Não permite que eu me desfrute

Outras vezes um ser tão sereno
Se apropria, tão simples requinte
Ser sorriso, tão leve e sensato
Aparece assim, amiúde

E me encontro com outros de dentro,
Mesa farta de eus tão distintos
Se debatem, se abraçam e se ferem
Se perdoam, são bons aprendizes.

segunda-feira, 29 de julho de 2013

Vintage

E perdeu-se a leveza no vento. Perdeu-se a graça e a força.
Certo que persiste a certeza de não ser agora a paz de outrora.
Já não sei em que ponto do caminho tudo ficou ou se ainda existe.

A dúvida é sempre a maior dor.

segunda-feira, 22 de julho de 2013

Filhos da noite

Há pessoas tão profundas que não posso alcançá-las.
Trazem o coração em chamas e a alma pintada.
Afogados em sensibilidade, cultivam o riso mais doce 
E as lágrimas...bailarinas.
Aliás, alguns não choram. Apenas recolhem-se na calma de um sono profundo.
Mas não dormem. Não dormem nunca.

sábado, 20 de julho de 2013

Pequenina

E num giro de relance vi você assim crescer.
Para dentro. Sem limites.
Bem ao meu lado, sorriso de canto.
Enfeitou as tardes inquietas.
Trouxe a paz que me trouxe de volta.
E com essa mania de ser tão delicada, fez morada em mim.

quinta-feira, 27 de junho de 2013

Diz aí

Diz aí. Como se separa o joio do trigo,
nesse meu mundo já tão encardido,
cheio de sonhos que herdei e criei.

Nessa tormenta em que a voz é o busto,
onde há fogo e um barulho tão mudo 
que eu já tão rouca me faço obstante.

E me inquieto por não definir 
o que eu vejo e o que está por vir
Sigo adiante, sem paz, reticente.

sexta-feira, 14 de junho de 2013

Conselho fosse bom...

É que eu te vejo sempre tão perdida,
que acho que isso já não lhe cai bem,
é tudo instável, é tanta agonia,
é chuva no molhado, é só desdém.

Então eu te pergunto, pra que isso?
Mas a pergunta não lhe soa bem.
"Cuida do seu que eu cuido da minha vida,
É chuva no molhado, mas convém".

Engulo então o tapa da resposta
E entendo os fatos como eles são.
Desculpe a minha grande prepotência
Recolho-me, te deixo com a razão.

segunda-feira, 10 de junho de 2013

Descole a capa que ainda te mantém irredutível.
Se ela te dá conforto, te dá também comodismo
E é tempo de ver o novo nascer.

Tome cuidado e sempre respeite
O acaso que sempre serve de enfeite
Pro novo amor se instalar e morar.

Não tenha medo que eu te deixo partir e viver,
Bem cá de longe, pagando pra ver,
Sua armadura apertar e cair.

É sempre assim, eu me doo por dentro.
Digo doer...é difícil, sem jeito
E então me lembro que já te perdi.

Agora vá.

segunda-feira, 27 de maio de 2013

Presença

Olhe aqui meu menino,
Veja que mundo bonito você construiu.
E com a saudade de quem já partiu,
Me orgulho de tudo que vejo em você.

Espia aqui meu menino.
Que monte de gente você fez nascer,
E o tempo ligeiro tratou de correr,
Deixando essa gente mais longe de casa.

Mas nunca duvide do amor que eles têm
e fique tranquilo com os dias que vêm,
Pois trago-te a paz emprestada dos céus.

quinta-feira, 23 de maio de 2013

Disfarce

Dissimula,
Finge nada ver quando tudo sabe.
Finjo não sentir o que tudo vejo,
Dissimulo.

Dissimulados,
Fazemos teatro da vida.
Pra quê?
A finalidade desconheço,
O caminho é o fim.

segunda-feira, 20 de maio de 2013

Cultivo

Adubei a terra, revolvi mansamente.
Apesar de tudo, vi desfalacer muitas flores.
Te encharquei vez ou outra, quase afogando.
Não sabia que seria a espécie mais encantadora e resistente.
Não voa, insiste, tão velha flor...persiste.

segunda-feira, 13 de maio de 2013

Admiro

Eu queria ser feito você,
andar só com o que cabe na mente
e com aquilo que a gente só sente,
sem encher o sapato de areia.

Eu queria ser como você
que acredita que o mundo tem jeito,
mesmo cheio de tanto defeito.
Ser ateu mas ser homem de fé

E então quero ser para você
tudo aquilo que é para mim.
Um devoto do início ao fim,
um amor que eu não fiz merecer.

quarta-feira, 8 de maio de 2013

Pequeno ser

Ah pequeno ser estrela, 
força viva tão miúda,
mal chegou já sei amar.

Traz no rosto um riso doce,
 me pergunto como pôde
tão depressa me encantar...

O cabelo cacheado, 
feito sol assim dourado
mais parece um querubim.

Ah pequeno ser sabido, 

amoleço e não me aguento, 
pra você é sempre sim.

Tem o nosso amor inteiro,
Sempre tão abençoado por Gogó e o Guilaguí *.
Ah pequeno ser bonito,
sem surpresa  eu anuncio
meu poema é seu, Davi.



* Gogó e Guilaguí é como Davi chama os avós - Helenice e Silvio.

segunda-feira, 6 de maio de 2013

Mal sabia

Quisera eu te guardar bem guardada, apertar a tampa, garantir o fechado e cuidar de tudo te deixando segura.

Espantar o medo ou o choro engasgado,  assoprar o quente evitando o queimado, segurar sua mão  pra andar nesse mundo.

Descobri que não tenho poder sobre tudo e não posso guardá-la no escuro, tão sozinha sem asa e sem chão.

Aprendi que você é valente, que não gosta de mim tão descrente...
Mal sabia da força que tem.

quinta-feira, 2 de maio de 2013

Ah se...

Ah se eu pudesse ter guardado, um lugar bem do seu lado sem brigar por posição. 
Eu seria  destemido, tão seguro e decidido em pedir a sua mão.

Já fiz planos pro futuro, fiz promessa e asseguro precisar só de um sim.
Já  me sinto tão completo, você é o alvo certo, desde ontem até o fim.

Mas diante do esforço eu não vejo nada em troca, um olhar ou coisa e tal.
Talvez seja o seu jeito, tão quieto ou talvez seja algo bem proposital.

Vendo a sua indiferença, diminuo a insistência e me faço mais humilde.
Quero apenas, tão somente, um lugar em sua mente e suprirá minha existência.

quarta-feira, 1 de maio de 2013

Mente que mente

Pois que a mente ludibria e faz achar que eu mesma quero;
Quero aquilo que não tenho, quero ter o que eu nego.
Faço ser o que repilo e luto em vão, com inconstância. Falta riso e não encontro lucidez e temperança.
...
Mas o tempo é a raposa, 
Junta os cacos e consola.
- Dê-me a mão velho amigo. Pague logo essa fiança.

sexta-feira, 26 de abril de 2013

Ei, você.

Você, que tem os olhos vivos e que ainda brilham mesmo cansados.
Que fala baixo e contido as palavras mais claras e certeiras.
Você, que se recolhe em seu próprio castelo já desbotado, mas seguro...onde mora o silêncio que te alimenta e te suga.
Que caminha, firme e manso.
Riso fácil, humor discreto.
...
eu de longe, perto.